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terça-feira, 23 de setembro de 2014

16. EPÍLOGO


Assim enceramos este trabalho cujo embrião, se assim podemos dizer, aconteceu há décadas. Lembramo-nos de ter assistido a uma série de programas na televisão onde um apresentador falava sobre estas pinturas. Ficaram-nos na memória as palavras “D. Jaime, S. Miniato, Florença, João Eanes”. Só muito mais tarde conseguimos associar estas palavras ao investigador António Belard da Fonseca e à sua obra “O Mistério dos Painéis” publicada em cinco volumes ao longo de uma década (1957/1967). Presumimos que deve ter sido ele o tal apresentador daquele programa de televisão.

Mais recentemente ao vasculharmos os livros escolares do tempo do liceu, deparámo-nos com o livro de Português do 1º ano que inclui uma fotografia dos Painéis. Espanto nosso, verificámos que por debaixo havia uma série apontamentos manuscritos pelo nosso punho que indicavam as identificações e relações familiares de algumas das figuras presentes nos Painéis. Estes apontamentos estão de acordo com a tese exposta na obra daquele autor. A transmissão daqueles programas deve ter acontecido durante os últimos anos da década de 60, teríamos então 12 ou 13 anos de idade.

Esta nossa atracção pelo enigma dos Painéis, que começou bastante cedo como vimos, teve um renascimento quando em 1994 adquirimos o livro, que tinha acabado de sair, “Os Painéis de S. Vicente de Fora - As Chaves do Mistério” da investigadora Theresa Schedel de Castello Branco. A partir daqui procurámos aprofundar e conhecer outras perspectivas e teorias sobre esta temática. Esta vontade levou-nos a ler um conjunto de obras, publicadas há muitos anos atrás, que considerámos fundamentais. Tentámos manter-nos actualizados com os novos trabalhos que entretanto foram saindo. Pouco a pouco demo-nos de conta de que o tema geral subjacente aos Painéis poderia ser um, que ainda não tinha sido desenvolvido nem defendido. Esta ideia foi depois aprofundada e ampliada através de investigações mais concretas e de maior pormenor, que culminaram na redacção do presente ensaio.

Na elaboração deste estudo tentámos acrescentar, sem o conseguir, algo de novo relativamente a outros pormenores dos Painéis. Estão neste caso os seguintes:
  • O frade de barbas que segura uma tábua com olhais: qual o significado ou simbolismo associado a esta tábua? O modo como os olhais estão distribuídos indica alguma coisa?
  • Os três cavaleiros do primeiro plano do respectivo painel: quem são e como é que se relacionam e se enquadram com o tema geral dos Painéis que defendemos?
  • As letras “M” e “A” existentes no colar do cavaleiro de verde[1]: serão as inicias do pintor ou de um seu auxiliar? Serão o início ou fim de uma divisa? Estranhamente, e que tenhamos conhecimento, mais nenhum investigador se referiu a estas letras para além de Belard da Fonseca! [2]
  • As inscrições existentes na bota de D. Afonso V e no botim do príncipe D. João: são já tantas as leituras e interpretações realizadas sobre estas inscrições que se torna quase impossível acrescentar uma nova proposta
  • O(s) pintor(es): terá sido Nuno Gonçalves, João Eanes ou um outro pintor? Foi um trabalho individual ou de conjunto? Foi nacional ou estrangeiro?

Estes últimos pontos continuarão a ser objecto da nossa atenção, que serão estudados e desenvolvidos desde que tenhamos dados suficientes para o fazer, assim como de outros aspectos que possam aparecer ao longo das investigações que continuaremos a efectuar aos Painéis.
  


Non multa, sed multum







[1] FONSECA, António Belard da. O Mistério dos Painéis – As Personagens e a Armaria, Lisboa, 1959, pág. 106 e O Mistério dos Painéis – Os Príncipes. Últimas Páginas, Lisboa, 1967, pág. 58
[2] Procurámos in loco confirmar estas letras, o que não foi possível dada a altura e a distância de segurança em que os Painéis se encontram no MNAA, para além do efeito do brilho do verniz da pintura realçado pela iluminação. As imagens que dispomos sobre este pormenor deixam-nos algumas dúvidas porque o “M” nos parece ser igualmente um “N” ou um “V”.